Descrição do Blog

Blog sobre a vida de Eugênia Brandão, a primeira repórter do Brasil. Este trabalho é complemento de um livro-reportagem que, embasado em documentos da época e em entrevistas com a família, narra a trajetória desta personagem. Eugênia Brandão nasceu em 1898 e morreu em 1948, o destaque é para seu pioneirismo na profissão, atuação no Partido Comunista e vida pessoal.

quarta-feira, 14 de janeiro de 2009

Conheça o blog e nosso Projeto



Amigo internauta!

Convido você que está acessando o nosso blog pela primeira vez a assitir esse vídeo de produção caseira que apresenta nosso blog e nosso objeto de estudo: Eugênia Brandão. Conheça quais foram os passos de nosso trabalho que nasceu como um Projeto de Conclusão de Curso e deu origem a um livro-reportagem-biografia, ao próprio blog, e a um artigo científico apresentado no VI Congresso Nacional de História da Mídia da Rede Alcar, que aconteceu em Maio de 2008 no campus da UFF, em Niterói-RJ.

A Família de Eugênia


Amigo internauta, neste post você poderá ver imagens de um dos momentos mais importantes e de maior sensibilidade deste trabalho: a entrevista com os familiares.

Em maio de 2007 eu realizei entrevistas com os filhos e as netas de Eugênia Álvaro Moreyra (o nome de casada de Eugênia Brandão). Uma das netas é Sandra Moreyra,repórter da TV Globo. Aparecem no vídeo dois filhos da primeira repórter brasileira, Álvaro Samuel e João Paulo, que já são octogenários mas guardam a memória da mãe com riqueza de detalhes prezando até mesmo pela exatidão das datas.


terça-feira, 23 de dezembro de 2008

A Face política: a voz nos palanques e o canto atrás das grades



Neste post nos dedicamos à participação política da primeira repórter brasileira. Saiba como se moldou a personagem Eugênia Brandão em uma época de grandes conflitos sociais.


Aos 16 anos, a menina Eugênia Brandão já manifestava um posicionamento político muito claro. Era contrária ao governo Hermes da Fonseca e foi justamente em um jornal anti-hermista, o periódico A Rua, que ela começou sua carreira como repórter. Nos bares da época, ela se juntava à rodinha de rapazes para criticar a maneira como o presidente resolvia os conflitos sociais, com prejuízo à integridade dos revoltosos. O caso clássico é o da Revolta da Chibata, quando depois de entrar em acordo de anistia com os marinheiros rebelados, Hermes volta atrás e condena centenas deles a prestarem serviços forçados nos seringais da Amazônia. Alguns líderes da revolta são fuzilados e outros morrem na prisão.

Nos anos seguintes, ocorrem vários episódios semelhantes - Guerra do Contestado, Conflito do Juazeiro, Revolta dos 18 do Forte de Copacabana – além de greves operárias, que ajudam a moldar em Eugênia Brandão um espírito militante e inquieto. Os ideais da primeira repórter se fortaleceriam ainda mais na Era Vargas.

Nos anos 30, Eugênia participa de passeatas e comícios. È dela a voz firme que se torna comum nos palanques sempre que a intenção é defesa dos direitos da classe operária. Logo ganha simpatia pelo partido comunista e pela figura de Luis Carlos Prestes. Assim como Olga Benário (a esposa de Prestes que morre em um campo de concentração nazista), ela se torna datilógrafa do partido e participa ativamente dos movimentos. Em novembro de 1935 aconteceria o maior deles: grupos de esquerda se organizam para a chamada Intentona Comunista, uma tentativa de golpe contra Vargas idealizada por Luis Carlos Prestes. Porém, sem o apoio da maior parte dos quartéis, o movimento falha e os participantes são perseguidos e levados à prisão. Dois agentes do governo chegam até a porta de Eugênia, no bairro Copacabana, e sem qualquer explicação ela é presa.

A viatura que tem no banco de trás a primeira repórter do Brasil segue para a Casa de Detenção da Rua Frei Caneca. Lá, Eugênia divide a cela com outras mulheres, de diversas profissões, e entre elas está Olga Benário. A voz de Eugênia se une às inúmeras vozes dos presos políticos que, em uníssono, cantam o Hino La Internacional todos os dias. As mesmas vozes se rebelam quando guardas vêm buscar Olga Benário, grávida, para entregá-la a Hitler. Mas o barulho das canecas nas grades é silenciado com a mentira de que Olga seria levada ao hospital. Olga decide acompanhar os guardas e é levada para um navio-prisão que parte para a Alemanha.

Eugênia permanece ainda três meses na prisão. Sai da mesma forma que entrou: sem nenhuma explicação. Imediatamente volta aos palanques e junto com outras mulheres faz campanha para a libertação de Olga e do bebê, que nasce no campo de concentração nazista. Apesar de toda a comoção que estas campanhas geram, nacionalmente e internacionalmente com a mãe e a irmã de Prestes, elas não conseguem salvar Olga da morte em uma câmara de gás Bernburg. Mas conseguem libertar a filha de Olga e Prestes, Anita Leocádia, que é criada pela avó.




Novidade: Podcast


Olá amigo!

Criamos um podcast para você conhecer os pontos principais da história da primeira repórter brasileira em apenas três minutinhos! Eugênia Brandão tinha apenas 16 anos quando passou a trabalhar como repórter do Jornal A Rua, menina ousada, invadiu um espaço que até então era exclusivamente masculino.


Vale a pena conferir esta história, fique à vontade para baixar também.










Powered by Podbean.com

segunda-feira, 22 de dezembro de 2008

Eugênia Brandão: uma pioneira desconhecida


Ela foi a primeira repórter do Brasil mas não está na maior parte dos livros de Jornalismo. Foi a primeira mulher a sair a campo disfarçada para fazer investigações jornalísticas no país. No início do século XX, este ofício era apenas para homens, considerado perigoso e falta de decoro para as mulheres. Havia também a barreira do analfabetismo feminino, na época apenas 20% das mulheres sabiam ler e escrever. Esta pioneira não freqüentou escolas, mesmo assim dominava o português, o espanhol e o francês, que aprendeu de forma autodidata, lendo dicionários. Mas, quem era ela?

Era apenas uma garota, de 16 anos, que se vestia com terno, camisa, gravata, calça e chapéu enquanto as outras mocinhas trajavam vestidos longos de babados e sombrinhas. Seu nome: Eugênia Brandão. Era mineira, nascida em 1898 em Juiz de Fora, neta de barões mas que chegou no Rio de Janeiro sem dinheiro algum.

A mãe não pôde requerer a herança da família por ser viúva, segundo o costume o dinheiro ficou em posse dos irmãos homens. Na capital, foi trabalhando que elas conseguiram o próprio sustento, a mãe em uma agência dos Correios e ela em uma livraria. Em seguida, Eugênia iniciou a carreira no Jornalismo no Jornal carioca Última Hora, tornando-se a primeira mulher a ser repórter no Brasil. Logo depois foi trabalhar no jornal A Rua, quando ganhou popularidade por uma série de reportagens investigativas que realizou em um asilo de jovens enclausuradas. Porém, a fama que teve no período foi sendo apagada pelo tempo. Hoje é apenas uma desconhecida.


Eugênia Brandão foi famosa em uma época de mais famosos que ela – Jorge Amado, Graciliano Ramos, Oswald de Andrade, Mário de Andrade, Manuel Bandeira, Vinícius de Moraes... Aliás, era amiga de todos eles e frequentemente os recebia em casa. Só que eles são lembrados hoje, por que será que ela não? Sandra Moreyra, repórter do Jornal Bom dia Brasil da Tv Globo, é uma das netas de Eugênia e acredita que tem a resposta. “Minha avó acaba sendo esquecida por uma sociedade a qual não interessava ter uma mulher à frente”, analisou. “Nos anos 30 e 40 as pessoas não estavam preparadas para aceita-lá porque ela estava muito à frente de seu tempo”.




Na segunda fila, Eugênia Brandão é a segunda da direita para a esquerda. A garotinha na foto é Bibi Ferreira, famosa atriz do Rio de Janeiro.


A sociedade conservadora da época talvez não estivesse mesmo preparada para “engolir” Eugênia. Na juventude ela foi uma boêmia, trabalhava no jornal A Rua, que circulava às quatro da tarde, e depois do expediente ia para os cafés, acompanhada só por homens. Mas o que mais escandalizava e dava assunto para as más línguas eram os modos da mocinha: usava cabelos curtos na altura da nuca, andava com traje masculino, fazia arruaça e fumava cigarrilhas – uma espécie de charuto, só que de espessura semelhante a de um cigarro. “Mamãe viveu a vida dela do jeito que achou que tinha que ser vivida e o resto, que se dane, não dava importância para o que os outros diziam dela”, contou Álvaro Samuel, 86 anos, filho de Eugênia.


Mesmo depois de casada e mãe de oito filhos (veja bem, oito filhos!) a primeira repórter não deixou de causar polêmica. Foi comunista atuante, sufragista (defensora do voto feminino), atriz e musa de artistas do Modernismo, por vezes retratada em pinturas. Em 1935 foi presa pelo governo Vargas sem qualquer acusação formal. Permaneceu na Casa de Detenção por seis meses, dividiu a cela com outras mulheres militantes, quase todas comunistas, entre elas Olga Benário, a mulher de Luís Carlos Prestes. Quando saiu, voltou direto para os palanques, foi protestar pela libertação de Olga que havia sido entregue para a Alemanha Nazista.


Eugênia morreu em 1948 por derrame cerebral, até os últimos minutos de vida se preocupou com política. Uma das últimas coisas que escreveu foi uma breve mensagem, em um papelzinho: o que vale não é o que somos mas o que seremos.


E se Eugênia Brandão fosse viva hoje?


Ela teria 109 anos e veria que o cenário do Jornalismo mudou. Diferente de seu período, hoje são os rostos femininos que predominam nas redações. Segundo dados da FENAJ (Federação Nacional dos Jornalistas) as mulheres ocupam 51,5% das vagas no Jornalismo. Em 2006, dos 11.574 jornalistas contratados e regularizados no país, 6.284 eram mulheres. O número não abrange os profissionais que trabalham sem registro em carteira mas, acredita-se que se considerados a porcentagem de mulheres jornalistas seria ainda maior.

Mas, nem tudo são flores, o salário dos homens na área é, em geral, 500 reais a mais que o da mulher. Também são deles os cargos de chefia nos principais veículos de comunicação social do país.


Eugênia Brandão: a primeira repórter do Brasil